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A Abordagem Indígena na Escola

      
I Jogos Mundiais Indígenas

Durante muitos anos a história do Brasil foi transmitida sob um olhar unilateral envolvido em parcialidades ideológicas. Valorizou-se então, sobremaneira, uma cultura e um modo de vida em detrimento de outros. Contudo, a formação do povo brasileiro se dá a partir da mistura de muitas etnias e muitos aspectos desses contingentes foram deturpados ao serem transmitidos, seja através das cartas aos portugueses, dos registros historiográficos, dos currículos escolares…
As consequências são diversas, sobretudo a má formação de uma identidade nacional. Um exemplo gritante de nossas lacunas históricas é a nossa concepção sobre os povos nativos, que não são bem representados desde a nomenclatura que receberam (índios).
Entende-se, hoje, como a forma mais correta de se referir a esses grupos como povos indígenas, na tentativa de lembrar que não existe uma imagem de índio pré-determinada e uma única maneira de ser indígena, mas que muitos povos com diferenças culturais, de  hábitos, de estruturas sociais, de rituais, etc.
Lei nº 11.645 de 2008, busca corrigir e preencher esta lacuna histórica na compreensão da contribuição das culturas Afro-brasileira e Indígenas como constituintes da nossa própria. Contudo, apesar da lei garantir que a cultura e história dos grupos indígenas devam ser valorizados e contextualizados em diversas disciplinas ao longo de toda a escolaridade, a imagem do índio continua sendo estereotipada e folclorizada nas salas de aula.
A escola, que deveria ser espaço de produção de conhecimentos e exercício da cidadania, continua reforçando estereótipos e, por conseguinte, preconceitos! As práticas pedagógicas continuam reproduzindo as mesmas abordagens de duas décadas atrás, como: pintar os rostos dos alunos, coroá-los com um cocar, fazer uh-uh-uh, e cantar músicas feitas por não índios. Mas, esta pintura representa qual cerimônia? Este cocar pertence a qual povo? Por que não cantamos músicas de origem indígena?! Essas são as questões centrais. Nenhuma dessas práticas são proibidas, mas é preciso relativizá-las, questioná-las, ampliá-las e aprofundá-las. Pois, novamente, escola é espaço de construção de conhecimento real, não de reprodução do senso comum. O senso comum é o princípio da construção do saber, que deve ser lapidado pela escola.

      Entretanto, por que tantos professores se mostram tão resistentes a modificar suas perspectivas e estratégias? Uma possibilidade de resposta seria o não reconhecimento, por parte destes,  da importância do tema para a formação da sociedade nacional, o que é um alerta sobre a fragilidade da sua formação.
      Como, então, devemos abordar o assunto com nossos alunos e construir uma imagem mais justa desses povos que nos influenciaram e influenciam tanto? O primeiro passo é não falar no tempo passado. Geralmente nos referimos aos indígenas como povos que existiram na época da chegada dos portugueses, anulando toda sua trajetória e suas ações no presente. Tampouco trabalhar o tema somente no dia 19 de abril. É importante discutir e propor pesquisas sobre a quantidade e nomes dos povos, suas línguas, suas identidades traduzidas em sua arquitetura, pinturas, objetos… Quais elementos, palavras e hábitos da cultura indígena influenciam em nossa vida. Qual a forma mais correta nomeá-los. Trazer para a sala de aula suas mitologias, cantos e literatura. Pesquisar e confeccionar instrumentos musicais, brinquedos ou utensílio doméstico utilizado por algum dos povos. Lembrar a riqueza e delícias da culinária indígena, alimentos que aprendemos a preparar com eles. É imprescindível reconhecer sua luta por território, identificar os espaços que ocupam e como vivem atualmente.
        Existem muitos recursos de fácil acesso para coleta de informações como o PIB Mirim e o PIB Socioambiental. Muitos vídeos e documentários riquíssimos, no Youtube, para uma imersão cultural. Páginas no facebook como a Aldeia Maracanã que atualizam sobre as ações do seu grupo.
      São algumas possibilidades de intervenção. São todas tentativas de correção, de desconstruir o índio preguiçoso, selvagem, e socialmente atrasado que pintaram em nossas caras, em nossos livros, em nossa memória! O indígena não é um cocar, não é uma oca, não é uma canoa! Ele não deixa de ser índio quando veste calça, usa celular, estuda em universidade. Assim como nós também não nos tornamos indígenas quando comemos pipoca, dormimos em rede, usamos pulseiras de miçangas. São etnias, grupos que se identificam pela mesma raiz cultural, semelhanças biológicas, mesma língua, religião e modo de viver.
             Este modo de trabalhar o conteúdo programático não é “mimimi” ou discurso “politicamente correto”, é cumprimento da lei e reconhecimento do papel de educador!
Referências:
 
AXA – ARTICULAÇÃO XINGU ARAGUAIA. Dia do índio: 10 sugestões de atividades para escolas. Disponível em: <http://axa.org.br/2015/04/dia-do-indio-10-sugestoes-de-atividades-para-escolas/>. Acesso em: 17 abr. 2018.
 
PIB MIRIM. O que é ser índio. Disponível em: <https://mirim.org/o-que-e-ser-indio>. Acesso em: 17 abr. 2018.
 
POVOS INDÍGENAS NO BRASIL. Quem são?. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/p%c3%a1gina_principal>. Acesso em: 17 abr. 2018.
SILVA, Marinês Cavalcante Da; AQUINO, Viviane De Fátima. O ensino das culturas indígenas nas escolas: a abordagem obsoleta sobre os nativos nos livros didáticos. 

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